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A Era
Nos anos 70, para fugir à fome e à miséria, às secas e à repressão colonial, os meus avós deixaram Picos, no interior da ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde, para fixar-se em Pero Pinheiro, na periferia rural de Lisboa.
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A Cultura
Com eles transportaram o tipo de vida que conheciam. Recriaram as principais atividades dos Picos, dedicando-se à agricultura de subsistência, à criação de gado e ao pequeno comércio. Entre os produtos que cultivavam, encontrava-se a batata, o feijão e o milho que me recordo de debulhar à mão. No pilon fazia-se o xerém - massa de milho - e a farinha para as filhós e o cuscuz.
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A Família
Ao fim de semana, com os excedentes, o meu avô ia à venda, abastecer as comunidades cabo-verdianas, nos bairros autoconstruídos dos subúrbios de Lisboa.
O nome do meu avô era Miguel, mas era conhecido pelo seu nominho, Nhu Lulu.
Sobre a Realizadora
No verão quente de ’79 em Lisboa D. Maria traz ao mundo Ana. E Ana fez-se Tica. Ana Tica é licenciada em Animação Sociocultural, e pós graduada em Gestão de Organizações de Economia Social, trabalhando em Desenvolvimento Comunitário.
Encerrada desde cedo, na sua pertença étnico-racial, descobriu-se negra, e actua, desde 2001, em dinâmicas coletivas do movimento negro, panafricanista e de luta antirracista.
As suas práticas e fazeres artísticos tornaram-na produtora e agente cultural. “Putos qui ata cria” (2006), é galardoado e louvado como boa prática pelo Comissariado Europeu para a Educação, Formação, Cultura e Juventude, e “Nôs Terra” (2011), documentário que co-realizou e produziu obteve reconhecimento nacional e internacional.